quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Automutilação - Reuters


Um em cada 12 adolescentes se machuca de propósito, diz estudo



Por Kate Kelland

LONDRES (Reuters) - Um em cada 12 adolescentes, a maioria meninas, causa autolesões propositais, e cerca de 10 por cento dos que fazem isso mantêm esse comportamento na vida adulta, segundo um estudo divulgado nesta quinta-feira.

Como a autolesão é um dos principais indicadores da propensão ao suicídio, os psiquiatras responsáveis pelo estudo disseram esperar que suas conclusões levem a atitudes mais ativas e prematuras para ajudar pessoas em risco.

George Patton, que comandou o estudo no Centro para a Saúde Adolescente, do Instituto Murdoch de Pesquisas Infantis, em Melbourne (Austrália), disse que as conclusões mostram uma "janela de vulnerabilidade" na fase intermediária da adolescência.

"A autolesão representa uma forma de lidar com essas emoções (da adolescência)", disse ele a jornalistas.

No estudo publicado na revista Lancet, os pesquisadores disseram também que os jovens que se machucam frequentemente sofrem de problemas mentais que exigem tratamento.

A autolesão é um problema mundial de saúde, e especialmente comum entre meninas e moças de 15 a 24 anos. Especialistas suspeitam que a incidência do problema esteja aumentando.

Segundo a Organização Mundial da Saúde, quase 1 milhão de pessoas se suicida por ano, o que representa uma mortalidade de 16 por 100 mil indivíduos, ou uma morte a cada 40 segundos. Nos últimos 45 anos, os índices mundiais de suicídio cresceram 60 por cento.

No estudo, Patton e Paul Moran, do Instituto de Psiquiatria do King's College, de Londres, acompanharam entre 1992 e 2008 uma amostra de jovens com idades em torno de 15 a 29 anos, no Estado australiano de Victoria.



De 1.802 pessoas que responderam ao questionário quando adolescentes, 149, ou 8 por cento, relataram autolesões. Entre as meninas o índice subia a 10 por cento; entre rapazes, caía a 6.

Moran disse que os principais fatores para o problema parecem ser uma combinação de alterações hormonais durante a puberdade, mudanças cerebrais na metade da adolescência - com o desenvolvimento do córtex pré-frontal, associado ao planejamento, à expressão da personalidade e à moderação - e fatores ambientais, como a pressão dos colegas, dificuldades emocionais e tensões familiares.

Cortes e queimaduras eram as formas mais comuns de autolesões entre adolescentes, mas também apareceram casos de envenenamento, overdoses e pancadas.

Quando os participantes chegavam à idade adulta, no entanto, as taxas de autolesão caíam dramaticamente, e aos 29 anos menos de 1 por cento dos participantes relatavam fazer deliberadamente algo que lhes machucasse ou ameaçasse.

sábado, 12 de novembro de 2011

Entrevista sobre ansiedade - Época Negócios



“Ansiosos colocam o problema na frente do prazer”

Autora da recém-lançada obra Mentes Ansiosas, a psiquiatra Ana Betriz Barbosa conta como controlar a ansiedade na vida e no trabalho Amanda Camasmie





Sempre pensar que nada vai dar certo é uma característica do ansioso, segundo a psiquiatra Ana Beatriz Barbosa


Você acorda quase todos os dias com a sensação de que algo ruim irá acontecer? Também sempre está com uma constante sensação de tensão, esperando a todo o momento o pior dos mundos? Se a resposta for sim, há grandes chances de que a sua ansiedade esteja ultrapassando os limites. E chegar a esse nível pode significar que em algum momento você começará a se prejudicar no trabalho e na vida – se já não estiver se prejudicando. “As personalidades mais pré-dispostas a serem mais ansiosas são as perfeccionistas e controladoras”, afimou apsiquiatra Ana Beatriz Barbosa, autora do livroMentes Ansiosas - Medo e a ansiedade além dos limites pela Fontanar, um selo da editora Objetiva.


A psiquiatra conta que tonturas, diarreias, insônia e alergias podem ser indícios de que a pessoa está ultrapassando os limites da ansiedade, o que pode levar até a um transtorno do pânico. Além disso, a ansiedade além dos limites passa a sensação de constante tensão. “O ansioso coloca o problema na frente do prazer”, disse a psiquiatra na entrevista concedida a Época NEGÓCIOS.


Em seu livro, a senhora cita que o medo e a ansiedade são como arroz feijão. Por qual motivo eles andam tão juntos?

O medo e a ansiedade são a mesma coisa para o organismo. Qualquer ser humano tem a reação do medo, que é programado para a nossa sobrevivência para enfrentar dificuldades. Quando essa reação surgiu, ela era ligada a uma sobrevivência material, no sentido de caçar e comer. Hoje, nós temos essa mesma reação, mas com um estilo de vida totalmente diferente. Nos dias atuais temos uma reação frente a um perigo, como medo de cachorro e de lugar fechado, por exemplo. Quando se tem ansiedade é a mesma sensação, a diferença é que o indivíduo não consegue identificar o que traz esse medo. Isso provoca no organismo uma reação de perigo, a pressão aumenta, assim como os batimentos cardíacos e a frequência respiratória. O corpo nos prepara para essa reação de ansiedade porque identifica que é a mesma sensação do medo.


Medo: "Sentimento de grande inquietação ante a noção de um perigo real ou imaginário"
Ansiedade: "Sensação de receio e de apreensão, sem causa evidente"


*Trecho do livro Mentes Ansiosas - Medo e a ansiedade além dos limites






Mas se fugimos do centro urbano para ir ao campo, isso faz com que fiquemos menos ansiosos, não?

Sim, mas é diferente. Porque você está indo para lá para descansar e se desconectar totalmente do trabalho e não para desenvolver alguma atividade. E não precisa ir ao campo ou à praia para isso. Em qualquer lugar que você esteja, que consiga te tirar desse turbilhão de coisas, vai fazer com que você descanse. É por isso que as pessoas precisam sair de férias todos os anos. Dividir as férias em duas fases seria importante, porque quando você tira o mês inteiro, você desconecta completamente e depois demora a voltar à rotina corporativa. Muitos que tiram um mês de descanso adoecem, porque fizeram uma esticada muito grande. Na verdade, o melhor ainda seria dividir as férias em quatro, ou seja, tirar uma semana a cada três meses.


A forte ansiedade pode levar ao transtorno do pânico. Como não chegar a isso?

É preciso cuidar do corpo. E não é só fazendo exercícios. Beber muita água é importante. O excesso de adrenalina só sai do corpo pela urina. Beber muita água significa que a pessoa está diluindo a substância no organismo e depois eliminando.


É necessário seguir algum tipo de dieta?A cafeína deve ser evitada. Também é bom evitar ficar muitas horas sem comer e nesse intervalo ingerir doces. Fissura por doces é sinal de que a pessoa está com o estresse elevado. Ganhar peso também é um indício. Mas é um aumento de peso diferente, ele se acumula apenas na cintura abdominal, a pessoa ganha barriga.


E o sono?

A insônia é outro sinal, o sono picado é muito típico de alto nível de ansiedade. Sonhar que perdeu a hora, prazos ou arquivos do trabalho também indicam que você pode estar mais ansioso que o normal. Pessoas que ficam muito irritadas, mesmo que não manifestem também são perigosas para si mesmas. E uma constatação interessante é quando a pessoa começa a fazer solilóquio, que é um diálogo interno. A pessoa começa a ficar chata, a reclamar do trânsito, da vida, do trabalho, de tudo e de todos. Quem ouve muito pessoas assim não se pode deixar contagiar. É preciso ficar atento.




Como o profissional pode trabalhar a ansiedade no dia a dia? Essa qualidade precisa vir das empresas. Uma referência importante é o Google. Existe uma flexibilidade de horário que eles trouxeram para o ambiente corporativo. Há locais para relaxar, e isso é fundamental. O trabalhador gasta quase dois terços da sua vida no trabalho, contando o horário de locomoção, então ele precisa de um ambiente agradável. No Google, hora do almoço é hora do almoço. Eles te “obrigam” a dar uma volta e sair um pouco do ambiente corporativo.




E se a empresa não oferece essa qualidade, o que fazer?

Nesses casos o funcionário precisa utilizar técnicas para não entrar na sintonia da ansiedade. Perceba: quais são os sinais que minha personalidade me dá para dizer que estou ansioso? Cada um vai ter um sinal. Pode ser enxaqueca, tontura, diarréia e outros. Quando estou mais ansioso ou sobrecarregado, como os meus pensamentos reagem? É preciso se autoavaliar diariamente. Também é importante priorizar as atividades e não fazer dez coisas ao mesmo tempo. Não adianta acelerar, porque isso não resolve, não é sinônimo de produtividade.


O Steve Jobs foi extremamente ansioso. Ele foi para a Índia meditar e voltou ainda mais ansioso. Pessoas assim se dão bem, mas antes precisam cair.





E se o funcionário sofre muita pressão do chefe?

Um chefe pode reclamar de tudo, mas não de um resultado satisfatório. Como você vai fazer o seu trabalho não importa. Se ele quer controlar a forma como as atividades são feitas, ele é controlador e um mau chefe. Não se pode deixar entrar na ansiedade dele. É preciso ser produtivo, sem ser pilhado. É preciso desarmar e não rebater. Se você entra na ansiedade do seu chefe, perde a produtividade e nesse momento ele vai falar “tá vendo, eu não falei?”.




Os ansiosos também têm dificuldades em aceitar críticas? Antes de receber a crítica, ele já fica com taquicardia. O ansioso precisa entender que se alguém o chama para fazer críticas, é porque essa pessoa aposta em você. Ele precisa aprender a ouvir, aliás, essa é uma medicação fundamental. O ansioso sempre está precipitado em querer dar a solução, mas nem sempre está preparado para ouvir.


Há um lado positivo da ansiedade?

Os ansiosos são as pessoas que dão o “start” para as coisas. São aqueles que anteveem as coisas, já têm um plano A, B e C. Desde que ele não faça isso uma coisa de vida ou morte, isso é muito interessante. Porque são pessoas que costumam se preparar para as intempéries da vida. Mas ele precisa saber que mesmo que ele tenha dez hipóteses, a vida um dia vai exigir a 11ª e ele vai ter que aceitar. Ele precisa entender que haverá situações em que ele não saberá o que fazer. Lembro apenas que esses exemplos se encaixam em pessoas ansiosas que não estão a ponto de adoecer. São pessoas que sabem administrar a ansiedade e admitem que precisam seguir algumas regras, senão extrapolam.


A senhora tem exemplos de pessoas famosas e ansiosas que fizeram sucesso?

O Steve Jobs foi extremamente ansioso. Ele foi para a Índia meditar e voltou ainda mais ansioso. Criou uma empresa e por querer fazer valer suas ideias, foi posto para fora da própria companhia. Foi quando ele aprendeu e entendeu que deveria fazer com que as pessoas acreditassem na sua ideia. Pessoas assim se dão bem, mas antes precisam cair. Toda vez que vi ansiosos caírem e terem a humildade de saber que as coisas não são como eles querem, os vi tendo sucesso.

A senhora diz que uma dose de medo é importante, seria uma forma de proteção quando atravessamos a rua, somos assaltados, etc. É uma forma de nos mantermos vivos. Qual é o limite para a ansiedade no trabalho? A senhora pode citar exemplos? Você pode ter tonturas, o coração dispara. Ou você tem uma diarreia. Pode ter pressão alta, insônia, dores de cabeça e musculares. Cada organismo reage de um jeito e sinaliza que o corpo não está harmônico. São dores e reações que a pessoa nunca teve e passou a ter. Quando a pessoa procura um tratamento, esse corpo já transbordou.




Como saber se sou uma pessoa muito ansiosa?

Personalidades mais pré-dispostas a serem ansiosas são perfeccionistas e controladoras. São aqueles que estão sempre revisando um trabalho e exigindo muito de si e de todos. Essas pessoas, além de adoecerem, podem adoecer os colegas. Para você saber qual o seu nível de estresse no trabalho, além das dores no corpo, é preciso perceber se você está sempre com uma sensação de tensão. É a sensação de que toda hora vai acontecer algo que vai te prender ou que algo negativo poderá te afetar. O ansioso pensa “não vai dar certo”, “será que vai ser bom?”. O ansioso coloca o problema na frente do prazer.




De acordo com o seu livro, um dado que contraria o senso comum é o fato de que o pânico ocorre com igual frequência nos grandes centros urbanos e nas regiões agrícolas. A vida agitada nas cidades então não influencia de nenhuma maneira o pânico e a ansiedade? É errado imaginar que o centro urbano é o culpado por esse aumento da ansiedade. Na área rural também há muitos estressados. Nunca houve tantos conflitos na área agrícola, com pessoas sendo ameaçadas de morte, por exemplo. A produção agrícola passou a ser commodity, tem a preocupação com as pragas, mudanças climáticas e greves. Também é um ambiente de estresse para as pessoas. Mas é preciso lembrar que precisamos de uma dose de ansiedade. Caso contrário, nem levantamos da cama, porque não estaremos ansiosos para realizar nada.